segunda-feira, 14 de maio de 2012

"Não Me Envergonho De Minhas Origens"

Alguém vai se perguntar porque  me repito tanto,  porque volto tanto a infância e sempre me refire aos meus pais. É simples... eu os amo e me faz bem à alma reviver minha própria  história e ter sempre em mente quem sou e de onde vim. Não me envergonho de  minhas origens.

Quando criança eu odiava futebol. As primeiras da "Copas do Mundo" foram  uma  tortura. As malditas acabavam com  minha única diversão de menina pobre: a TV. Era todo um mês sem desenhos, ou filminhos de "Sessão da Tarde". Pensava:"vou enlouquecer sem os Flinstones! Morrerei sem a Jennie e certamente terei um infarto sem Speed Racer!"

Mas eu crescia. Joguei basquete, terminei a faculdade, virei gente  adulta e meu pai  foi acometido pela Doença de Parkinson.

Já valorizava a muito como ele a música e o cinema. A medida que ele era impossibilitado pela  enfermidade de realizar algumas de suas costumeiras diversões, eu me via fazendo-lhe companhia no sofá, movimentando suas pernas, forçadas agora à lentidão, esticando seus dedos e adaptando  a almofada às suas costas. Procurando gostar  do que ele gostava.

O videocassete trouxe os faroestes de volta e nos apresentou Whitney Houston, que ele reviveria por anos a fio . Por que não  o futebol ?! Foi tudo acontecendo naturalmente. O que primeiro ocorria por força da limitação, tornou-se um privilégio. Me sentar ao seu lado para ver o Santos. Hoje afinal Neymar, Ganso e Arouca nos enchem os olhos. Na verdade já arriscara  décadas antes  alguns jogos onde os animadores eram  Batata, João Paulo, Juari e Chulapa! Mas só o Santos. Não alcancei aquele nível de paixão futebolística capaz de admirar jogos da segunda ou terceira divisão seguidamente.

A menina já não podia dançar com o papai ao som de Tim Maia, Ed Lincon e Ray Charles , que lhe chegavam daqueles bolações de vinil, de sei lá quantas rotações. Porém ainda existiam estádios  de futebol e era possível a ela descobrir a curtição da festa  junto da Torcida Jovem Santista. Numa ligação resumi o fato: "Pai fui ao jogo"!  - " Obrigado minha filha!" -  Ele replicou contente!

Há coisas que  nem o Parkinson pode nos roubar. Estarmos juntos. Amo o Araújo.

Meu pai querido na medida do possível para um  coroa parkinsoniano solte aí teu grito de "Santos, Trii Campeããããão!", que eu com prazer te acompanho.

Um comentário:

  1. Sabe Márcia Araújo....
    Você é uma pessoa incrível e não acredito que a opinião de alguém que sabe tão pouco de tudo quanto eu possa mudar algo em você!!!
    Não há nada do que se envergonhar...
    Eu vejo essa história sua como a de uma guerreira,alguém que lutou e ainda luta pra se orgulhar da vida que tem...
    O sr. Araújo deve ter muito orgulho de você, que abriu mão de diversos "sonhos" (não si se devo chamar assim) para cuidar dele, e ainda assim tornou-se uma excelente profissional e um ser humano excepcional.
    Acredite...há muito do que se orgulhar....
    E naqueles momentos em que tudo parece perdido... Sempre há algo pelo qual valha a pena lutar e alguém está olhando você e se espelhando no seu exemplo de vida!!!!!

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