"Não Me Envergonho De Minhas Origens"
Alguém vai se perguntar porque me repito tanto, porque volto tanto a infância e sempre me refire aos meus pais. É simples... eu os amo e me faz bem à alma reviver minha própria história e ter sempre em mente quem sou e de onde vim. Não me envergonho de minhas origens.
Quando criança eu odiava futebol. As primeiras da "Copas do Mundo" foram uma tortura. As malditas acabavam com minha única diversão de menina pobre: a TV. Era todo um mês sem desenhos, ou filminhos de "Sessão da Tarde". Pensava:"vou enlouquecer sem os Flinstones! Morrerei sem a Jennie e certamente terei um infarto sem Speed Racer!"
Mas eu crescia. Joguei basquete, terminei a faculdade, virei gente adulta e meu pai foi acometido pela Doença de Parkinson.
Já valorizava a muito como ele a música e o cinema. A medida que ele era impossibilitado pela enfermidade de realizar algumas de suas costumeiras diversões, eu me via fazendo-lhe companhia no sofá, movimentando suas pernas, forçadas agora à lentidão, esticando seus dedos e adaptando a almofada às suas costas. Procurando gostar do que ele gostava.
O videocassete trouxe os faroestes de volta e nos apresentou Whitney Houston, que ele reviveria por anos a fio . Por que não o futebol ?! Foi tudo acontecendo naturalmente. O que primeiro ocorria por força da limitação, tornou-se um privilégio. Me sentar ao seu lado para ver o Santos. Hoje afinal Neymar, Ganso e Arouca nos enchem os olhos. Na verdade já arriscara décadas antes alguns jogos onde os animadores eram Batata, João Paulo, Juari e Chulapa! Mas só o Santos. Não alcancei aquele nível de paixão futebolística capaz de admirar jogos da segunda ou terceira divisão seguidamente.
A menina já não podia dançar com o papai ao som de Tim Maia, Ed Lincon e Ray Charles , que lhe chegavam daqueles bolações de vinil, de sei lá quantas rotações. Porém ainda existiam estádios de futebol e era possível a ela descobrir a curtição da festa junto da Torcida Jovem Santista. Numa ligação resumi o fato: "Pai fui ao jogo"! - " Obrigado minha filha!" - Ele replicou contente!
Há coisas que nem o Parkinson pode nos roubar. Estarmos juntos. Amo o Araújo.
Meu pai querido na medida do possível para um coroa parkinsoniano solte aí teu grito de "Santos, Trii Campeããããão!", que eu com prazer te acompanho.